sexta-feira, 30 de março de 2012

Tocando a campainha, na casa de Hermeto Pascoal

Tocando a campainha, na casa de Hermeto Pascoal.
             por Jovino

Era um domingo ensolarado em novembro de 1977. Eu e meu amigo de infância Jacinto olhamos para o portão fechado à nossa frente, ali na Rua Vitor Guisard, no Bairro Jabour, perto de Senador Camará, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Eu perguntei a ele:

— Será que eu toco a campainha? Ele me garantiu que ali mesmo, naquela casa por detrás do muro alto, morava o Hermeto Pascoal. Ele havia chegado de São Paulo há um ano. Sem mais titubear, apertei o botão.
  foto de : Luzia
Grob dos Santos

Eu estava ali por curiosidade pura. Recém-chegado há duas semanas de Montreal, no Canadá, onde eu tinha passado 3 anos estudando biologia e tocando música, eu agora me encontrava de volta ao meu bairro de nascença, Realengo, ali pertinho do Jabour, a caminho de um curso de pós-graduação na Amazônia. Minha curiosidade era grande. Em 1967, aos 13 anos, eu vibrei com Edu Lobo e sua linda composição “Ponteio” que venceu o festival da Record, sem me dar conta que aquela flauta que parecia um pássaro cantando por detrás das vozes era tocada por um albino baixinho sem pescoço, escondido detrás dos outros instrumentos. Eu havia lido uma reportagem da revista O Bondinho de 1972, antes de ir estudar fora, com uma matéria sobre aquela figura exótica e quixotesca mesmo antes de ouvir sua música, o que só veio a acontecer em 1973, no Teatro Fonte da Saudade, na Lagoa. Assisti a outro show do Hermeto no Museu de Arte Moderna do Rio em 1975, enquanto passava férias e mais uma vez, saí de lá maravilhado com o som, mas confuso por não saber colocar o que eu tinha ouvido dentro de nenhuma categoria conhecida. De volta ao Canadá, conheci outras facetas do trabalho do Hermeto nas gravações que ele fez com Airto Moreira e Flora Purim. Por isso, de volta ao Brasil, em 1977, eu me encontrava ali, prestes a tocar a campainha da casa dele, e meio nervoso, sem saber o que lhe dizer.

Juntei a coragem e apertei o botão. Dona Ilza Pascoal, esposa do Hermeto e mãe de seus seis filhos, abriu o portão:

— Pois não… Eu gaguejei:

— O-O-O Hermeto está? Eu sou músico e gostaria de conhecê-lo. Ela me conduziu até a sala, e de repente eu me vi sozinho ali, sentado no sofá, enquanto Hermeto Pascoal, de short e sem camisa, estava tocando num piano elétrico com fones de ouvido, seus olhinhos fechados. Tudo que eu ouvia era o batucar das teclas. Uns 20 minutos se passaram, o que me pareceu uma eternidade. Eu já estava pensando como ia sair de fininho, sem que ele notasse, quando ele abriu os olhos, sorriu e me cumprimentou:

— Tudo bem? Comecei a me apresentar. Tudo o que eu queria era lhe dizer da minha admiração pelo seu trabalho. Falei do grupo com quem eu tinha tocado piano no Canadá, Mélange, e disse que estava ali no Rio de passagem, a caminho de um curso de pós-graduação na Amazônia. Será que o Hermeto conheceria um lugar para se tocar um pouco, onde rolava uma jam session? Eu mostrei a ele uma fita cassette do Mélange, e ele me mostrou uma do novo disco dele, o “Missa dos Escravos”. Tocou a faixa-título, com o som dos porcos e aqueles acordes muito estranhos para mim. Ele então me perguntou:

— Você sabe ler partituras, acordes cifrados? Eu menti:

— Ah, sim, claro…

— Olha, eu tenho um Grupo, e estou querendo tocar mais flauta e saxofone, precisava de um pianista para essa sexta-feira para um show no Morro da Urca, você toparia fazer comigo?
Show no Sesc Pompéia em 18.02.2005.
 Foto: Adriana Elias
   Isso não era bem o que eu esperava, pois eu nunca pensei que ele fosse me convidar para tocar. Eu retruquei que não poderia assumir nenhum compromisso, devido ao meu curso, tinha uma prova para a bolsa de estudos em 2 semanas, etc… Ele disse:

 — Escuta, se você quiser tocar, pode ser sem nenhum compromisso, me avise quando tiver que ir para a escola e fica tudo bem. Ele então puxou uma folha de papel com uns acordes escritos. Lembro claramente do tema, “Campinas”, uma linda balada que ele havia composto há pouco tempo. Ele me pediu para sentar ao piano elétrico e tocar os acordes. E ali mesmo, sem saber formar nem a metade deles, ambos nos certificamos que eu realmente não lia nada. Minha experiência musical incluía umas aulas de piano que eu tive com a Dona Jupyra quando tinha 12 anos, mas desde então, tudo que eu tocava era de ouvido, músicas copiadas do rádio ou de discos, e minhas composições, que eu tocava de cor. Hermeto deu um sorriso matreiro, e disse:

— É, acho que você precisa ensaiar um pouco… pode vir aqui amanhã de tarde? Os meninos do Grupo vêm ensaiar, e você vai aprender com eles. E lá fui eu pra casa, sem saber direito onde tinha amarrado meu burro. Claro que eu não poderia entrar de novo num conjunto musical, tinha outros planos traçados, uma vida dedicada à pesquisa científica dentro da biologia, onde a música figurava apenas como um hobby, uma distração. Eu havia provado de um pouco da vida de músico no Canadá, e não achava que meu caminho era viver dentro dos ambientes enfumaçados dos clubes, tocando para gente que não estava lá para ouvir música. E agora estava dividido, porque dentro de mim, algo queria muito mesmo tocar, aprender e compartilhar aquele som.

Segunda-feira, 14h, lá estava eu de volta ao Jabour. Conheci Itiberê Zwarg, baixista e Peninha, baterista. Hermeto me apresentou a eles e começamos a ensaiar, uma variedade de temas: um baião, um frevo, aquela balada que eu não conseguia tocar. Lá pelo meio da tarde apareceu um percussionista que se chamava Pelé. Ele havia conhecido o Hermeto durante a gravação do disco “Orós” do Fagner, e foi convidado para aparecer no ensaio. Hermeto disse a ele:

— Campeão, esse negócio de ser Pelé não dá, você vai se chamar Pernambuco. Pelé/Pernambuco havia trazido um berimbau e umas tumbadoras, mas o Hermeto, que sempre chamava todos de “Campeão”, disse:

— Olha, vende esses negócios, porque você vai ser um percussionista diferente. Nada de tumbadora ou berimbau, já tem muita gente tocando isso. Amanhã você vai no Mercado de Madureira e arranja uns chocalhos de bode, umas conchas e umas panelas. Vamos criar uns instrumentos novos.

E assim a semana passou, o Grupo ensaiando, tocando o mesmo tema 20, 30 vezes. Eu, meio apressado, achava que estava bom, que poderíamos ensaiar outros temas, ou então improvisar, que era o que eu no fundo queria, mas o Hermeto insistia que ainda tinha muito o que melhorar. No segundo dia de ensaio apareceu o Cacau, saxofonista e flautista que tocava com o Grupo há algum tempo. Eu nunca tinha tocado num grupo assim antes, em que as partes eram definidas e ensaiadas múltiplas vezes, enquanto o Campeão (nós o tratávamos pelo mesmo nome que ele nos tratava) mudava uma nota aqui, uma batida ali, e todos reescreviam suas partes na hora. Muitas vezes apenas a “cozinha” (piano, baixo e bateria) ensaiava o tema inteiro, sem os sopros. Eu, que havia me acostumado a tocar sempre com outros músicos cobrindo meus erros, de repente passei a me sentir muito vulnerável. Nesta nova situação musical, o baterista nunca marcava o tempo; ele tocava de uma forma mais livre, colorindo as frases, o que me deixava meio inseguro, sem entender direito como fazer com todas essas vozes coexistindo. Hermeto assumia o piano e tocava, às vezes improvisando durante 15 ou 20 minutos com a banda, o que me deixava louco de vontade de imitá-lo. Um dia perguntei a ele:

— Você pode me ensinar técnica, exercícios para tocar assim rápido e limpo? Ele sorriu:

— Não, técnica não existe separada da música. Esses temas que vocês estão ensaiando exigem técnica, e por isso temos que repetir muitas vezes, para que a mente e as mãos possam aprender naturalmente. Mas se você quiser estudar apenas a técnica, você vai virar um robô, tocando um monte de escalas e frases feitas de forma automática.

Por fim chegou a tal sexta-feira. O show era na Concha Verde, que era um anfiteatro ao ar livre no alto do Morro da Urca. Para chegar lá era preciso tomar o bondinho do Pão de Açúcar, o cartão postal mais conhecido do Rio de Janeiro. Eu cheguei lá cedo, muito feliz em ver o local apinhado de gente, com pessoas encarapitadas em cima das árvores para ficar mais perto do palco. Eu nunca tinha participado como músico de um evento assim, e estava ansioso para mostrar tudo aquilo que havíamos ensaiado durante a semana. Peguntei ao Hermeto qual seria a primeira música da noite, e ele respondeu:

Jovino & Hermeto at the Blue Note in 1991 (photo by Tim Geaney)
— Não sei, vamos entrar no palco e criar um lance. Eu fiquei confuso:

— Como assim? E os temas que a banda ensaiou esses dias todos?

— Hoje e agora não é uma boa hora para aqueles temas. Vamos tocar outros. E de repente lá estávamos nós no palco, criando levadas, improvisos e solos que nunca tinham acontecido antes. Outros músicos apareceram: Mauro Senise, José Carlos Bigorna, Márcio Montarroyos, de repente havia um naipe de sopros no palco tocando coisas que eu nunca havia ouvido. Numa certa hora Hermeto me manda entrar no palco e fazer um solo de clavinete, um teclado com cordas. E eu perguntei:

— Que tipo de solo você quer que eu faça? Meio soul, funk, rock?

— Nada disso – quebre tudo, toque o que você sentir na hora. Eu fui, sem saber direito o que era “quebrar tudo” e assim que eu comecei a tocar, ele parou a banda inteira e todos saíram do palco, me deixando sozinho com centenas de pessoas ouvindo. Foi ali naquele momento que eu me dei conta que uma transformação estava acontecendo, uma coisa meio misteriosa que eu não conseguia entender, mas que era uma delícia. Claro que ter as pessoas aplaudindo era bom, mas a satisfação maior era a de encontrar naquele momento uma resposta intuitiva em mim para um desafio que envolvia a mente, o corpo e o coração, tudo junto. Toquei sem pensar em frases pré-construídas, de uma forma tal que os espaços entre as notas se tornaram tão ou mais importantes que as notas.

Ao final do concerto, todos estávamos exaustos e felizes, e o Hermeto me perguntou:

— E então, gostou?

— Claro, adorei…

— Bicho, se você quiser, sábado que vem temos um outro show em São Paulo. Quer fazer? E eu, já imaginando o que poderia acontecer, respondi:



— Eu gostaria, Campeão, mas nesse dia eu tenho que fazer a prova para minha bolsa de estudos aqui no Rio, dura o dia todo…

— Que horas é a prova?

— das 7 às 16h.

— Pronto! Nosso show é às 21h em S. Paulo. Você faz sua prova, pega a Ponte Aérea e chega lá no Ginásio da Portuguesa a tempo, vamos te esperar… tem uma passagem te esperando no aeroporto.

E como tinha de ser, eu fiz a prova no Rio, e peguei o avião pra Sampa e um táxi para o local do show. Cheguei na Portuguesa e estava acontecendo um tipo de festival, a Clementina de Jesus e Xangô da Mangueira estavam cantando, e lá atrás do palco, o Hermeto e o resto da banda. Fiquei feliz de rever o pessoal, e o Hermeto me cumprimentou:

— Está pronto?

— Estou, Campeão.

— Então vamos nessa. O concerto foi totalmente diferente do que aconteceu no Rio, o público em São Paulo ouvia de uma forma muito diferente. Foi a primeira vez na vida em que eu percebi que cada nota que eu tocava ressoava em alguém lá na platéia, e voltava para mim com uma vibração. Tudo o que a banda tocava era amplificado não pelos alto-falantes, mas pelo povo que estava ali bebendo daquele som. E eu vi como o Hermeto se alimentava daquela vibração. Naquela época ele tocava uma flauta com captador e uma caixa de efeitos que ele podia manipular, achando sons de microfonia e distorções, que antes só com Jimi Hendrix eu havia ouvido. Ali, naquele momento, eu entendi o porquê do apelido de “Bruxo” que o Hermeto tinha. A flauta era uma varinha de condão, e ele a usava de uma forma natural, sem maneirismos, tocando e apontando para o amplificador, usando a microfonia como uma melodia. Ouvi naquele concerto outros temas que nunca havia conhecido, inclusive a linda “Aquela Valsa”, que o Mauro Senise tocou de sax soprano. Eu não toquei o piano o tempo todo; várias vezes o Hermeto corria e me enxotava do teclado, dizendo:

— Vá pegar uma percussão e fique ali ao lado do Pernambuco, mas sempre de olho em mim. Eu ia, e enquanto tocava um triângulo ou caxixis, observava como ele era capaz de pegar um certo ritmo ou estilo e injetar uma coisa nova, uma nova tonalidade, até que a maré se estabilizava outra vez, e ele me dava um sinal para retornar:

— Agora fique tocando assim, mas não deixe a peteca cair de novo!

Eu, que nem sabia que a peteca tinha caído, achava que estava tudo bem, mas ele estava ouvindo tudo, e com firmeza e carinho, corrigia meus muitos erros e comentava depois:

— Olha, eu às vezes grito e pareço meio grosseiro no palco, mas o som está rolando, e o som é sagrado. Não ache que eu estou com raiva, estou cuidando do som. A maneira carinhosa com que ele tratava todos do Grupo deixava isso bem claro, mas ele nunca deixava passar um segundo em que as peças daquele quebra-cabeça complexo estivessem fora do lugar, sem que ele interviesse para ajustar um ou outro detalhe.

Em São Paulo, passei a conhecer o lado estradeiro do Hermeto. Em casa no Jabour, ele nunca saía, ficava em casa vendo futebol e tocando, mas nas viagens ele se tornava aquele personagem que os índios americanos chamam de “Coiote”, o brincalhão esperto, o coringa multicolorido que desafia, desacata e desafia tudo que estivesse na frente do Som. Na manhã seguinte ao show da Portuguesa, eu fui ao seu quarto de hotel e ele me disse:

— Ouça esse choro lindo que eu escrevi: e tocou sentado na cama um chorinho de 3 partes no sax soprano, e eu pensando: Como nunca ouvi esse choro antes? Ao fim, ele disse:

— Escrevi nada, inventei isso agora mesmo, improvisei a música inteira. Isso para mim passou a definir a essência Hermética. O improviso tão estruturado que parece escrito, e a escrita tão fluida que parece fluir da chama do improviso free.

Outra coisa que me atraiu muito no Hermeto era a fibra nordestina. Como neto de sergipano, cresci ouvindo o linguajar e a maneira nordestina de pensar, falar e agir, e o Hermeto representava o arquétipo do “cabra da peste”, o vaqueiro do agreste que dribla o clima, a distância, as limitações físicas e tudo o mais que vier ao encontro da sua rota traçada pelo destino. Hermeto me lembrava um peão montado num cavalo chucro, correndo no meio da caatinga espinhosa atrás da rês desgarrada da melodia, usando a rede da harmonia e o tropel da zabumba para alcançar seu objetivo.

Com o fim do ano de 1977, tudo aconteceu ao mesmo tempo para mim: a descoberta de um universo musical de cuja existência eu nem suspeitava, junto com a aprovação para o curso de mestrado em ecologia no Instituto de Pesquisas da Amazônia. Uma escolha devia ser feita, e logo.

Uma trilha que se bifurca na mata, sem sinais ou setas apontando o caminho certo. Deveria eu seguir os estudos iniciados, explorando com a mente as muitas conexões entre a natureza e os seres vivos, ou pular de cabeça nesta aventura de músico, aprendiz do feiticeiro com varinha de condão de prata, e muitos truques escondidos na cartola branda da sua cabeleira? Foram umas semanas de muita reflexão e insegurança. Aos poucos me dei conta que naquele momento eu era um passageiro na estação ferroviária, vendo dois trens passando, aparentemente indo em direções contrárias. E ali naquele instante, pude entrever o espaço entre os vagões, como uma janela entreaberta. Essa era minha chance de saltar, confiar na intuição e encarar o desafio da música, sobre a qual eu sabia nada ou quase nada, deixando a linha reta da ciência, uma estrada asfaltada onde eu sabia como avançar, pela corrente do rio da música, cheia de surpresas, com suas enchentes e secas. Nadar ou afundar…

Tive o apoio fundamental de meus pais, que nunca se opuseram à minha decisão. Lembro claramente quando disse a meu pai que iria recusar a bolsa do INPA para ficar morando em Realengo, ensaiando todos os dias com uma trupe mambembe. Ele me disse calmamente:

— A vida é sua, tome sua decisão e siga em frente. Só não me venha dizer daqui a seis meses que quer ser biólogo outra vez, certo?

E esse foi o começo de um novo capítulo, um aprendizado que me pediu quinze anos de minha vida, e que me deu em troca a chave do Universo da Música.

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Jovino Santos Neto.

www.jovisan.net                 www.facebook.com/JovinoSantosNeto)
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Este é um capitulo , do futuro livro que está sendo escrito pelo próprio músico.

Complemento: Seus pais José Jovino dos Santos, (farmacêutico que por muitos anos administrou uma farmácia na Av. Santa Cruz em frente à Travessa Rodrigues Marques e Maria José Campos dos Santos, (Dona Zezé) ). Em breve falaremos mais desta família que serviu de inspiração para a readaptação da série “A Grande Família“
fonte: site do próprio: Jovino: Piano, teclados, flauta, compositor, arranjador, produtor.

Criado em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Jovino iniciou sua carreira musical aos 16 anos, tocando
composições originais no Vacancy Group (ex- Os Birutas) em shows nos subúrbios cariocas. A partir de 1974 passou 3 anos em Montreal, no Canadá, onde foi membro fundador do conjunto Mèlange. Ao retornar ao Brasil em 1977, foi convidado por Hermeto Pascoal para integrar seu grupo.
Durante 15 anos, Jovino colaborou em tempo integral com Hermeto, como pianista, flautista, co-produtor de 7 discos e responsável pelas excursões internacionais do grupo. Criou um arquivo para documentar e preservar as milhares de composições de Hermeto.
 
Em 1993 Jovino mudou-se para Seattle, nos Estados Unidos, para estudar regência e desenvolver sua carreira como compositor, pianista e arranjador. Entre 95 e 97 tocou com Airto Moreira e Flora Purim em discos e turnês por todo o mundo. Formou o Jovino Santos Neto Quarteto em 94 com músicos de Seattle, e lançou o discos Caboclo  em 1997, Ao Vivo em Olympia  em 2000 e Canto do Rio, indicado ao Grammy Latino de 2004 em 2003, todos pelo selo Liquid City Records. No mesmo ano gravou Serenata em duo com o bandolinista Mike Marshall pela Adventure Music, onde lançou em 2006 Roda Carioca, seu trabalho mais recente, que foi indicado também ao Grammy Latino de 2006 como melhor disco de jazz latino do nao.
 
Jovino, também editou 32 partituras de Hermeto Pascoal publicadas no livro Tudo é Som pela Universal Edition.
Jovino Santos Neto é professor de piano e composição no Cornish College of the Arts em Seattle, Presidente da filial Noroeste da Academia Nacional de Gravação (NARAS) e afiliado à IAJE (
Associaçãol Internacionall dos Educadores de Jazz). 

"Realengo" (De Adjetivo a Substantivo).

Por Armando Silveira

“Realengo” 

Derivou-se o Português, como língua Românica, do Latim vulgar. O Portugês, o Espanhol, o Francês, o Italiano, o Provençal e o Catalão são línguas Românicas porque tiveram a mesma origem. Na realidade, são a continuação do Latim vulgar. O Latim foi levado a todos os povos pelos soldados Romanos. O Império Romano conquistou imensas regiões e levou, através de seus soldados, o Latim vulgar. Vulgar, porque era falado por povos sem cultura.

Para conhecermos melhor nossa língua, devemos estudar os fatos históricos e os acontecimentos que motivaram a sua origem em relação ao Latim, as línguas acima mencionadas, não passam de meros dialetos, enriquecidos com palavras de outros idiomas, inclusive os indígenas.

Etimologicamente, Reguengu, Reguengo ou Regalengo, vem do Latim: Regalis, Regale, que traduzido diz-se do que é inerente ao Rei, propriedade da Coroa Real. O adjetivo Regalengo, por síncope perde o “G” e o adjetivo que qualificava um direito do Rei, passa a se chamar Realengo. As terras devolutas, sem cultivo, por “Direito”, pertencem à Coroa Real .Citamos por exemplo: Cunhar moedas ou dinheiro, era um “Direito” que a Coroa Real exercia sobre aqueles bens. Portanto, Realengo era um adjetivo que qualificava um “Direito” de propriedade das terras pertencentes à Coroa Real e que mais tarde vai tornar-se um “Substantivo Próprio”.e que mais tarde vai tornar-se um “substantivo próprio”.

João III, Rei de Portugal, criou as Capitanias Hereditárias em 1532. No intento de colonização, fracassaram. Mais tarde criou o Governo Geral. Somente duas Capitanias porsperaram: São Vicente e Olinda. Após a expulsão dos Franceses do Rio de Janeiro, Já no Governo de Martim Correia de Sá, por volta de 1612, ele concedeu a Gaspar da Costa novas “Sesmarias” para serem cultivadas. Sesmaria era uma medida agrária que media 6.600 metros de extensão. Terras localizadas desde a atual estação de Marechal Hermes até o Jericinó, nome Tupí, que quer dizer: Localidade ou maciço ou mata. Gaspar da Costa, construiu uma grande fazenda com um grande engenho e que lhe deu o nome de “Sapopemba”, devido a grande quantidade de raízes achatadas alí existentes. Sapopema ou Sapopemba é um nome índigena.

A fazenda prosperou, o açucar produzido seguia para Portugal, o progresso transforma vilas em povoados e cidades. Com a morte de Gaspar da Costa, os herdeiros, aos poucos se desfizeram da grande fazenda Sapopemba. Com a população crescendo, surgiram os primeiros colégios e o adjetivo que qualificava aquela região outrora, prevaleceu “O substantivo próprio Realengo”.

300 anos nos separam daquele tempo. Vem revoltas, as ditaduras o progresso transformador, os políticos que procuram o inusitado, transformando nomes de ruas e praças. Mas, a história é indelével. Os fatos históricos ficam registrados. Agora, é evidente, que existe muita história para contar. Mas, a etimologia do vocábulários “Realengo”, está definida.
Por: Armando Silveira

"Para O Jornal Realengo em Pauta”


    Armando Abreu Silveira
Nascido em Fortaleza (PE) em 1928 e morador de Realengo desde 1947- E vem a ser primo direto de Guilherme da  Silveira (O homem que criou a Fábrica Bangu e fez crescer o bairro ao  entorno dela) 
e de outra linhagem é também primo dos atores Milton Moraes e de Renata Sorrah.


bibliografia:  Enciclopédia Koogahn-Larousse  /    Dicionário Melhoramentos /    Dic. Língua Port.. Alpheu Tersariol /    Aurélio Século 21. /      Arquivo Municipal RJ.
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obs: Este texto foi escrito com exclusividade para o Jornal Realengo em Pauta, e nos foi cedido para publicação neste blog, com autorização de seu autor.